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Consequences of climate change on the tree of life in Europe
New study in NATURE

Climate change can provoke a loss of biodiversity in the South of Europe.

As alterações climáticas poderão provocar uma perda generalizada de biodiversidade no sul da Europa

- Um estudo publicado na revista Nature analisa, pela primeira, vez as consequências das alterações climáticas sobre a “árvore da vida” do continente europeu.

- Todos os ramos da árvore da vida poderão ver-se afectados, contribuindo para uma homogeneização da diversidade entre aves, mamíferos e plantas em todo o continente.

A diversidade biológica forma-se a partir do balanço entre extinções e produção de novas espécies. Todas as espécies se encontram representadas na árvore da vida. O tronco e ramos internos correspondem aos antepassados das espécies modernas, que se representam nos ramos mais externos da árvore. Um estudo em que participa Miguel Araújo, titular da Cátedra Rui Nabeiro/Delta em Biodiversidade, do pólo da Universidade de Évora do Centro de Estudos em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), analiza pela primeira vez as consequências das alterações climáticas sobre a árvore da vida na Europa, em particular, sobre as relações evolutivas entre plantas, aves e mamíferos. De acordo com as previsões dos investigadores, que serão publicadas no próximo número da revista Nature, o sul do continente europeu é a região mais afectada pelas alterações climáticas podendo registar uma “perda generalizada” de diversidade biológica.

Miguel Araújo, salienta que a biodiversidade nas regiões mediterrâneas é mais vulnerável porque se encontra exposta a alterações climáticas acentuadas mas também por possuir maior diversidade filogenética que outra regiões da Europa ou, o dito de outra forma, maior quantidade de informação evolutiva independente. “A Península Ibérica será uma das regiões mais afectadas pelas alterações climáticas. As distribuições das espécies poderão sofrer contracções importantes, ou deslocar-se para norte, ou para altitudes mais elevadas. Em casos extremos é mesmo possível que algumas espécies se extingam”, refere Miguel Araújo, investigador coordenador convidado da Universidade de Évora.

Para estudar o impacte que as alterações climáticas poderiam ter na árvore da vida, os investigadores reconstruiram as relações evolutivas, ou filogenéticas, de um grande número de espécies de plantas, aves e mamíferos e avaliaram o risco de extinção que cada uma delas poderia ter se fosse exposta a diferentes cenários de alteração climática. Num passo seguinte, os investigadores compararam as extinções induzidas por alterações climáticas com cenários aleatórios de extinção. “Esta análise permitiu, pela primeira vez, estudar de que forma poderiam as alterações climáticas afectar a árvore da vida ou, dito de outra forma, a história evolutiva da biodiversidade e o seu potencial evolutivo futuro”, explica Wilfried Thuiller, primeiro autor do estudo e investigador do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS) de Grenoble em França.

O estudo revela que a alterações climáticas poderiam ter impactes negativos em todos os ramos da árvore da vida: “ainda que alguns ramos da árvore da vida são mais susceptíveis de ser negativamente afectadas pelas alterações climáticas, globalmente, os impactes não se distinguem do que se esperaria as extinções fossem aleatórias”, diz o Miguel Araújo. Estes impactes adicionar-se-iam a outros, como a destruição e fragmentação de habitats, a extracção excessiva de recursos biológicos, ou a introdução de espécies invasoras, que têm tendência a afectar ramos específicos da árvore da vida.

Extinção em massa?

O processo de extinção das espécies é contínuo mas houve cinco momentos da história do planeta que sentenciaram o desaparecimento massivo de biodiversidade. Estas extinções em massa conduziram ao desaparecimento de mais de 70% das espécies do planeta e foram causadas por episódios geológicos catastróficos, como a colisão de asteróides, a deriva de continentes e alterações climáticas. Uma tese corrente é que estaríamos a viver actualmente a sexta extinção em massa motivada, desta vez, pela intervenção humana.

Existem fundamentos para suportar esta tese? Miguel Araújo explica “para que uma vaga de extinções se designe como extinção em massa tem de cumprir quatro condições: ocorrer de forma generalizada em todo o mundo; ocorrer num espaço de tempo geológico curto; envolver grandes quantidades de espécies; e afectar espécies de um vasto leque de grupos biológicos”.

Ainda que exista um consenso sobre o carácter global das extinções actuais e sobre a sua rapidez, sabe-se que o risco de extinção das espécies se encontra desigualmente distribuído entre grupos biológicos: “os vertebrados de grandes dimensões, as espécies especialistas, as endémicas de ilhas, montanhas e de algumas regiões tropicais, assim como alguns grupos, como os anfíbios, encontram-se expostos a níveis de ameaça muito preocupantes, mas outros grupos aparentam estar menos ameaçados. Se as extinções afectassem muitas espécies, em apenas alguns ramos da árvore da vida, poderíamos estar perante extinções dramáticas, com elevado impacte no funcionamento dos ecossistemas e sobre a economia mas não estaríamos, necessariamente, perante a sexta extinção em massa”, diz Miguel Araújo.

O estudo publicado não permite fazer ilações sobre a magnitude das extinções induzidas pelas alterações climáticas mas revela que as alterações climáticas produzem impactes que poderão afectar todos os ramos da árvore da vida. Este impactes adicionam-se a outros impactes de origem humana, contribuindo para amplificar a actual crise da biodiversidade. “Ao afectar espécies diferentes das que já se encontram ameaçadas por factores humanos, as alterações climáticas poderiam ter um efeito aditivo sobre as extinções, o que alteraria por completo as contas actuais sobre risco de extinção das espécies”, diz Miguel Araújo

Miguel Bastos Araújo (Bruxelas, 1969), doutorou-se em Geografia, ramo de biogeografia, pela Universidade de Londres (2000). Trabalhou como investigador no Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) de Montpellier, no “Natural History Museum” de Londres e nas Universidades de Oxford e Copenhaga. Actualmente é o titular da Cátedra Rui Nabeiro/Delta em Biodiversidade, a primeira Cátedra criada com fundos privados em Portugal (http://www.catedra.uevora.pt/rui-nabeiro/) e investigador principal do “Consejo Superior de Investigaciones Científicas” (CSIC) onde co-dirige o grupo de biologia integrativa e alterações globais do “Museo Nacional de Ciencias Naturales” em Madrid.

Referência: Thuiller, W., Lavergne, S., Roquet, C., Boulangeat, I. & Araújo, M.B. Consequences of climate change to the Tree of Life in Europe. Nature. In press

Published in 17 of February of 2011