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Investigadores apresentam estudo que revela que as alterações climáticas contribuíram para a extinção dos mamíferos pré-históricos.

Novo estudo revela ligação entre “Pegada Ecológica” e Extinção em Massa de Mamíferos.

Uma equipa internacional de cientistas descobriu que as alterações climáticas desempenharam um papel importante na extinção em massa dos mamíferos do final do Quaternário, à cerca de 50 mil anos atrás. No estudo, publicado na prestigiada revista científica “Evolution”, é desenvolvida uma nova metodologia que permite medir a “pegada” climática sobre estas extinções.

O Doutor Miguel Araújo, titular da Cátedra “Rui Nabeiro” da Universidade de Évora e membro sénior da equipa responsável pelo estudo, afirma que “há muito tempo que se discutem as causas que poderão ter levado à extinção global de 65% das espécies de animais com peso superior a 44 kg no período que decorre entre 50.000 e 3.000 anos antes do presente (BP). As opiniões têm-se dividido entre os que defendem a hipótese climática, que determina que estas extinções teriam sido motivadas por alterações no clima, e os que preconizam a “hipótese humana” que determina que as extinções foram provocadas pela expansão dos humanos modernos por praticamente toda a superfície terrestre do planeta”.

Nos últimos 50 mil anos o clima do planeta tornou-se mais frio e seco, atingindo plenamente as condições glaciares existentes acerca de 21.000 atrás. Desde então, o clima tornou-se mais quente, e esta alteração climática criou novas oportunidades para a colonização de novas regiões pelos seres humanos. Embora seja provável que ambos actores tenham tido um papel significativo na extinção das espécies, este estudo revela que esta alteração climática foi uma força motriz desta extinção em massa.

"Até agora, têm faltado análises globais para documentar o argumento da que as alterações climáticas poderiam ter contribuído para estas extinções. Grande parte dos elementos de apoio a esta hipótese são baseados em estimativas locais ou regionais, entre o número de extinções, as datas de chegadas dos humanos e as datas das alterações climáticas", afirma o primeiro autor do artigo, Dr. David Nogués-Bravo que trabalha actualmente no Centro de Macroecologia, Evolução e Clima da Universidade de Copenhaga. “A nossa abordagem é completamente diferente das anteriores. Primeiro desenvolvemos novos indicadores para medir a “pegada climática” em cada continente. Segundo, implementamos esta nova metodologia à escala planetária o que permite dar um passo em frente nesta discussão.

O estudo mostra que a dimensão da pegada climática parece estar directamente relacionada com o nível de extinções observado na maioria dos continentes. Por exemplo, o continente Africano terá tido extinções moderadas mas o nível de exposição às alterações climáticas também, foi moderado. Em contraste os continentes Europeu e Norte-americano tiveram extinções elevadas e níveis de pegada climática elevados também. Apenas foi registada uma excepção: o continente Sul-americano. De acordo com os dados existentes, este foi um dos continentes mais afectados pelas extinções mas nem o clima nem os humanos deixaram uma pegada visível para o período em que ocorreram as extinções. “Este é uns grandes mistérios que continua por desvendar”, comenta Miguel Araújo.

A peça-chave da evidência do debate “humanos versus clima” radica no tamanho dos animais extintos. O argumento principal a favor da hipótese humana é que as populações extintas foram observadas principalmente entre animais de grande porte e estes seriam objecto preferencial de caça. Se o clima tivesse contribuído para estas extinções seria de esperar que animais de pequeno porte tivessem registado extinções paralelas.

Os resultados deste estudo ajudam a resolver este problema ao mostrar que os continentes expostos a uma maior “pegada climática” foram também os continentes expostos a extinções de maior relevo entre mamíferos pequenos e vice-versa. O resultado reforça a ideia de que as alterações climáticas terão sido um factor subjacente, importante, nas extinções pré-históricas.

Esta pesquisa tem implicações importantes para o estudo das alterações climáticas, não só para salientar o papel do clima na extinção dos animais, mas também por demonstrar como o efeito foi diferente entre regiões e continentes. "Os nossos resultados mostram que os continentes com a maior "pegada climática" testemunharam mais extinções do que continentes com menor "pegada climática". Estes resultados são consistentes entre as espécies com diferentes massas corporais, reforçando a visão de que as alterações climáticas do passado contribuíram para as extinções globais, afirma Nogués-Bravo"

Miguel Araújo acrescenta: "Se é verdade que as mudanças climáticas não terão sido a única causa das extinções do passado, os resultados do nosso trabalho demonstram que estas não podem ser descartadas como um elemento que terá contribuído de forma significativa para as extinções verificadas nos diferentes continentes. A lição é clara: as oscilações climáticas do Quaternário não foram suficientes para causar extinções massivas mas a interacção entre alterações do clima e factores de origem humana pode ter um efeito devastador sobre a biodiversidade".